O mais recente encontro do Clube de Leitura, ocorrido no dia 20 de julho na Avante – Educação e Mobilização Social, foi conduzido por leituras compartilhadas de dois contos do livro “O fio das missangas” de Mia Couto: “O cesto” e “A saia almarrotada”.
As personagens, femininas, narram seu mundo triste, tendo como fio condutor objetos nos quais se identificam: seja uma saia velha ou um cesto de comida. De forma densa, entrelaçando lirismo e uma escrita simples, ganham voz mulheres condenadas ao esquecimento, à desimportância. "Agora, estou sentada olhando a saia rodada, a saia amarfanhosa, almarrotada. E parece que me sento sobre a minha própria vida", conta a narradora de “A saia almarrotada”, reconhecendo o destino que lhe foi dado, nascer “para cozinha, pano e pranto”. Ensinaram-lhe “tanto a ter vergonha em sentir prazer, que acabou sentindo prazer em ter vergonha”.
Em “O cesto”, a narradora, após a morte do marido constata que “em lugar do queixo altivo, do passo estudado, eu me desalinho em pranto. Regresso a casa, passo desgrenhado, em solitário cortejo pela rua fúnebre. (...) Amanhã, tenho que me lembrar para não preparar o cesto da visita".
As personagens parecem sentir-se machucadas, esquecidas, cientes da perda de sua adolescência e juventude.
Sentimento experimentado por milhares de mulheres em centenas de famílias. Por isso, quando lemos “O fio das missangas”, reconhecemos muitas colegas, amigas, parentes em quase todas as personagens que Mia Couto constrói com leveza e poesia.
Rita Margarete e Kleber Monteiro (Avante Educação e Mobilização Social)
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