Professora de 3ª série de São Caetano do Sul e alunos de 1ª a 5ª série de Porto Alegre proporcionam a ouvintes atentos um encontro mágico com a literatura
Thiago Minami (novaescola@atleitor.com.br)
Vivian conta a história do boto para a garotada: atenção e encantamento. Foto: Daniela Toviansky
Quando Enrica nasceu, na cidade de Belém do Pará, as mulheres ainda usavam vestidos compridos, lindos. Os pais da menina eram imigrantes europeus. Ela era lindinha, mas levada. Por pura rebeldia, Enrica resolveu fugir de casa com Idalina, garota escrava, sua grande companheira. Idalina contara a Enrica a lenda do boto do rio..." A história sobre o animal que se transforma num belo moço, adaptada do livro Mata: Contos do Folclore Brasileiro, de Heloísa Prieto, foi contada por Vivian Munhoz Rocha aos alunos da 3ª série da Escola Villare, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Enquanto ouviam a voz vibrante da professora, os pequenos pareciam viajar para um mundo distante.
Contadora de histórias desde 1998, com mestrado na área, Vivian afirma que seu desafio é cativar crianças acostumadas às linguagens dinâmicas da TV e do videogame. "É necessário mergulhar no que está sendo contado para criar além do texto e enriquecer a atividade atraindo os ouvintes", explica. Ela faz questão de que a atividade seja parte da rotina escolar e não entre somente como um tapa-buraco. A narração proporciona experiências lúdicas e de aprendizado pelo contato que os alunos têm com a tradição da palavra falada e as diferentes culturas por trás das narrativas. "Quando eu gosto da história, vou pegar o livro para ler depois", conta Enrico Mirabili, 9 anos.
Após a invenção da imprensa, a narrativa oral perdeu o status de principal maneira de transmitir saberes. No entanto, há sociedades - como as indígenas - que durante séculos utilizaram apenas a palavra falada para manter sua cultura, geração após geração. Sabe-se hoje que cada forma de passar o conhecimento tem funções diferentes. O livro é valorizado como objeto e veículo de aprendizagem, e o texto escrito se apresenta como uma forma de arte própria, que estimula o domínio de uma técnica diferente daquela utilizada ao falar. Já no ato de contar histórias, ressaltam-se o improviso, a cultura constituída na língua do dia-a-dia e a interação com o público. Um não é melhor que o outro. "Ler e contar podem igualmente ser seqüências monótonas de palavras que não produzem um efeito significativo se quem narra não imprime vivacidade e veracidade à cadência da história", aponta Regina Machado, contadora de histórias e professora da Universidade de São Paulo.
Criança também conta
Thanira Chayb Pillar, professora de biblioteca da EM Vereador Carlos Pessoa de Brum, em Porto Alegre, integra um projeto da prefeitura que incentiva a narração de histórias pelos alunos. Neste ano, o grupo - que se reúne uma vez por semana - é formado por estudantes de 1ª a 5ª série. Qualquer um pode se juntar a eles. Com os livros em mãos para se sentir mais seguros, os contadores vencem as dificuldades para acertar o tom e a altura da voz, a interpretação e a memorização.
A professora orienta sobre os aspectos técnicos e ajuda na interpretação do conteúdo. Os estudantes escolhem os livros e, usando a expressão corporal e facial, narram uns para os outros. Thanira corrige tom de voz, ritmo, pronúncia e postura antes, durante e depois da narração. "Com o treino, eles se soltam e ganham habilidade", conta. "Resolvi participar com meu irmão e foi legal porque fiz novos amigos e me interessei mais pelos livros", afirma Djuly Dessauer, 9 anos.
Clarice Santos Reis, professora de Língua Portuguesa da 5a série, afirma que os participantes do grupo ganharam fluência verbal e passaram a produzir textos mais ricos. "Eles se tornaram referências dentro da classe na hora de indicar livros aos outros."
PASSO-A-PASSO Para cativar a platéia
• Gilka Girardello, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, dá orientações a quem quer se tornar craque na contação de histórias.
• Faça uma seleção de títulos que despertem em você a vontade de passá-los aos alunos. É importante abrir o universo deles para diferentes narrativas, com temas como a vida e a morte, nossa origem e a humanidade, além de mitos.
• Para se familiarizar com a narrativa, treine contando para amigos e familiares
• Comece a narrar para grupos menores, enquanto você conhece as suas possibilidades. Reúna os ouvintes em roda para que eles se sintam próximos de você.
• Escolha recursos, como desenhos, bonecos, músicas e movimentos de dança, com os quais você se sinta mais à vontade.
• Use elementos expressivos, como imitação de vozes e movimentos com as mãos (estalar de dedos e palmas). Empregados na hora certa, eles fazem a diferença.
• Imagine os detalhes de todas as cenas e descubra a melhor maneira de entoar cada trecho (sem se preocupar em decorá-las).
• Preste atenção em alguns refrões ou frases de impacto que podem ser repetidos sempre do mesmo jeito - porque são bonitos ou soam bem.
• Quanto mais a história for contada, maior o número de novas imagens que são incorporadas a cada cena. Esta é a peculiaridade da oralidade: cada um recria o conto.
• Projete a voz na sala e amplie os gestos para que o público não se disperse. Quando o enredo pedir um tom mais suave, todos entenderão o recurso e farão silêncio para ouvir.
• Antes ou depois da narração, conte de onde vem a história: de um livro, de um filme, da mitologia grega ou se aconteceu com alguém conhecido. Assim, a turma fica sabendo que também pode passá-la adiante.
• Ignore as peraltices de alguns e conte a história para o resto da classe. Se alguma coisa que os bagunceiros fizerem permitir, vale incorporá-la à performance, sem quebrar o clima da história.
• Contar histórias sempre envolve alguns imprevistos. O importante é não ter medo. Geralmente, as crianças querem que a narração prossiga. Então, elas vão ajudar você.
DÉBORA DIDONÊ
Ouvir e contar histórias...
• Desenvolve a imaginação.
• Resgata a cultura oral e incentiva a escrita.
• Proporciona momentos lúdicos e de interação.
Quer saber mais?
CONTATOS
Escola Villare, R. Piauí, 876, 09541-150, São Caetano do Sul, SP, tel. (11) 4229-5253
EM Vereador Carlos Pessoa de Brum, R. da Abolição, s/no, 91790-130, Porto Alegre, RS, tel. (51) 3250-1698
BIBLIOGRAFIA
Acordais - Fundamentos Teórico-Poéticos da Arte de Contar Histórias, Regina Machado, 232 págs., Ed. DCL, tel. (11) 3932-5222 , 31 reais
A Palavra do Contador de Histórias, Gislayne Avelar Matos, 203 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677 , 39,40 reais
Mata: Contos do Folclore Brasileiro, Heloísa Prieto, 64 págs., Ed. Companhia das Letrinhas, tel. (11) 3707-3500 , 30 reais
Magia e Técnica, Arte e Política, Walter Benjamin, 256 págs., (capítulo O Narrador), Ed. Brasiliense, tel. (11) 6198-1488 , 42,40 reais
domingo, 28 de junho de 2009
Declaração Universal dos Direitos Humanos
(Adaptação de Ruth Rocha e Otávio Roth)
Um dia, uma porção de pessoas se reuniram. Elas vinham de lugares diferentes e eram, elas mesmas, diferentes entre si.Havia homens e mulheres; suas peles, seus cabelos e seus olhos tinham cores diferentes, assim como diferentes eram o formato de seus corpos e de seus rostos.
Vinham de países ricos e pobres, de lugares quentes ou frios. Vinham de reinados e de repúblicas. Falavam muitas línguas.Acreditavam em diferentes deuses.Alguns dos países que elas representavam tinham acabado de sair de uma guerra terrível, que tinha deixado muitas cidades destruídas, um número enorme de mortos, muita gente sem lar e sem família.
Muitas pessoas tinham sido maltratadas e mortas por causa de sua religião, de sua raça e de suas opiniões políticas.
O que reunia aquelas pessoas era o desejo de que nunca mais houvesse uma guerra, de que nunca mais ninguém fosse maltratado e que não se perseguissem mais pessoas que não tinham feito mal a ninguém.
Então elas escreveram um papel. Neste documento elas fizeram um resumo dos direitos que todos os seres humanos têm e que devem ser respeitados por todos os povos. Este documento é chamado Declaração Universal dos Direitos Humanos e diz mais ou menos o seguinte:
Todos os homens nascem livres.
Todos os homens nascem iguais e têm, portanto os mesmos direitos.
Todos têm inteligência e compreendem o que se passa ao seu redor.
Todos devem agir como se fossem irmãos.
Não importa qual seja a raça de cada um; tampouco importa que seja homem ou mulher; não importa ainda sua língua, religião, opinião política ou a família de que ele venha.
Não importa que ele seja rico ou pobre, nem que o país de onde ele venha seja uma república ou um reinado. Estes direitos devem ser gozados por todos.
Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Ninguém pode ser escravo de ninguém.
Não se pode maltratar as pessoas ou castigá-las de maneira cruel ou humilhante.
As leis devem ser iguais para todos e devem proteger todas as pessoas.
Todos os homens têm o direito de receber a proteção dos tribunais para que seus direitos não sejam contrariados.Não se pode prender as pessoas ou mandá-las embora de seus país, a não ser por motivos muito graves. Todo homem tem o direito de ser julgado por um tribunal justo quando é acusado de alguma falta.
Ninguém tem o direito de interferir na vida particular das pessoas, na sua família e na sua correspondência.
Toda pessoa tem o direito de se movimentar dentro das fronteiras de seu país. E tem o direito de sair e voltar ao seu país.
Ninguém deve ser privado de sua nacionalidade. Quer dizer, toda pessoa tem o direito de pertencer a alguma nação. E tem o direito de trocar de nacionalidade por sua vontade.
Todos os homens e mulheres, depois de certa idade, não importa sua raça, religião ou nacionalidade, têm o direito de se casar e começar uma família. Um homem e uma mulher só podem se casar se os dois quiserem.
Todas as pessoas têm direito à propriedade. E aquilo que uma pessoa possui não pode ser tirado dela, a não ser que haja um motivo justo.
Todas as pessoas têm o direito de pensar como e o que quiserem. Elas têm direito de trocar suas idéias e praticar sua fé em público ou em particular, e de contar a todos sua opinião.
Todas as pessoas têm o direito de se reunir ou de se associar, mas ninguém deve ser obrigado a isto.
A autoridade do governo vem da vontade do povo. O povo deve mostrar qual é a sua vontade pelo voto.Todas as pessoas têm o direito de votar.
Todas as pessoas têm direito ao tipo de trabalho que preferirem, e a boas condições de trabalho.
Todos devem receber remuneração igual quando fazem o mesmo trabalho e devem ganhar o suficiente para a saúde, alimentação e vestuário.Todo homem tem o direito ao descanso e deve ter um número de horas de trabalho limitado e férias pagas.
Todas as crianças têm os mesmos direitos, sejam ou não nascidos de um casamento.
Todas as pessoas têm direito a escola gratuita. Todos têm direito de aprender uma profissão. A escola deve promover o entendimento, a compreensão e a amizade.
Todos os homens têm deveres para com o lugar onde vivem e para com as pessoas que ali vivem também.
Não se deve usar o que está escrito neste documento para destruir os direitos e deveres aqui estabelecidos.
Há muitos anos esta declaração foi aprovada, mas ainda existem países que ainda não obedecem este documento. Para que isto aconteça, é preciso que todos aprendam nas escolas de todo o mundo, o conteúdo desta declaração.
Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/abc/dec_universal_dh_roth.htm
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Formação de Mediadores de Leitura - BC Sete de Abril
O primeiro encontro de Formação de Mediadores de Leitura, para os componentes da Rede, aconteceu no dia 13 de junho, na BC Sete de Abril. Gicélia, coordenadora desta biblioteca, ministrou uma oficina de confecção de bonecos e criação de histórias. Ao final do encontro, os participantes da oficina apresentaram um teatro de bonecos. Gicélia, há 5 anos, confecciona e utiliza bonecos nas suas atividades, como mais um recurso para contação de histórias, que encanta crianças e adultos.
terça-feira, 16 de junho de 2009
Mobilização Literária - BC Calabar
O segundo encontro de Mobilização Literária aconteceu na BC do Calabar, no dia 09 de junho. Houve recital de poesias pelo grupo da Biblioteca Comunitária do Calabar composto por 24 crianças, com idades entre 7 e 15 anos. O encontro contou também com a presença de Karla, assessora do Instituto C&A - parceiro técnico e financeiro da EMredando Leituras. Além de uma avaliação técnica, trouxe sugestões para aperfeiçoamento da Rede.
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